domingo, 13 de janeiro de 2013

Amanhã é segunda-feira.



"Dias tristes, vontade de fazer nada, só dormir. Dormir porque o mundo dos sonhos é melhor, porque meus desejos valem de algo, dormir porque não há tormentos enquanto sonho, e eu posso tornar tudo realidade.Caio Fernando Abreu

Tumblr_m8vengwgnm1qe5zb9o1_500_large

Meu relógio, na parede rosa sem vida, indicam que são cinco horas da tarde. Se eu tivesse um cachorro agora, diria que era a hora perfeita para leva-lo ao um passeio, pois até o tempo parece favorável pra isso. Ou um talvez um sorvete com um namorado, porque não?  Mas nesse momento pra mim tão pouco importa... Aliás, nem quero latidos de pulguentos e muito menos "blá blá"s de sapos no meu ouvido. E se isso tivesse agora, dispensaria. Porque hoje eu acordei com vontade de fazer nada. Nada. Nada e absolutamente nada. E isso está bem claro em meu rosto: o olho ainda com remela e as bochechas amassadas. E ainda visto o pijama do qual eu fui dormir ontem. A cama ainda está bagunçada. O cabelo despenteado. E o café já está frio.
E isso não é preguiça, seu moço. É apenas cansaço. Sabe, viver cansa. Essa sociedade  ridícula e hipócrita que me faz sentir assim... Assim tão frágil e sem motivação, que não dá vontade nem de pensar - e o que diria então, agir? 
Por isso decido em apenas deitar naquele carpete marrom esquilo e esquecer. Esquecer do mundo, a realidade, as pessoas. Esquecer de mim. Esquecer pra tentar sorrir depois, pois amanhã é segunda-feira e o parque de diversão da hipocrisia e falsidade continua.  

segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Um rascunho qualquer.

Algumas pessoas são como redemoinhos: chega pra bagunçar e te deixar tonto. Já outras, chegam de mansinho, te faz cafuné e te coloca no colo. Existem também aquelas que são como brisa no outono, que simplesmente passa levemente.... E não fica - arrepia e vai embora.
E talvez você tenha sido essa brisa. Por isso foi bom e rápido - não fertilizou com seu encanto as terras do meu coração tão desabitado.
Talvez você não era o instrumento certo para fazer música na minha alma, nem o passo correto para o meu ritmo. Talvez você não era o batom que combinava com minha pele, nem a flor certa para aquela primavera.   Talvez se tivéssemos nos encontrado ao meio-dia e não ás três da tarde.... Talvez o momento não era o certo para dividimos o mesmo caderno da vida. Tudo bem - talvez seja isso -, não era para ser você.



quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

A nossa dança.

Coloco uma música bonita para tocar. Olho a caneta, o papel amarelo em branco e vejo sua fotografia. Fico em silêncio. Observo a letra da música se misturar com as lembranças que ficou de você. Queria ter coragem de preencher essa folha em branco com todo o sentimento que guardo do meu coração. Preencher com toda saudade descompassada. Com todo amor desajeitado. Com todas as gotas de chuvas dos meus olhos e as flores coloridas dos meus lábios que se formam ao lembrar de você. 
E quem diria amor, que um dia o nossa música seria triste? Dançávamos como adolescentes sem hora para voltar pra casa. Dançávamos como se tivéssemos flutuando. Dançávamos levemente. E quem diria amor, que um dia essa dança teria fim? 
Eu errei o passo. Você errou a letra. Tropeçamos no vestido da vida. Com lágrimas nos olhos, mascaramos nossas almas e despejamos doses de veneno no nosso amor. Seguimos a estrada sem segurar as mãos. Paramos em um bar da esquina, nos embebedamos do amargo do fim.
Mas eu sei e você sabe, que nosso amor não é pequeno. Eu sei e você sabe, que está escrito em algum lugar que terminaremos essa vida juntos. Eu sei e você sabe, que essa distancia provocou furações.  Afinal, já dizia Tom Jobim amor,  "não há você sem mim e eu não existo sem você.

"Eu sei e você sabe, já que a vida quis assim
Que nada nesse mundo levará você de mim
Eu sei e você sabe que a distância não existe

Que todo grande amor
Só é bem grande se for triste
Por isso, meu amor
Não tenha medo de sofrer
Que todos os caminhos me encaminham pra você"
(Tom Jobim - Eu não existo sem você)






segunda-feira, 15 de outubro de 2012

All star preto dele, coração descalço dela.



Gostos | Tumblr
Ela estava no metrô. Entediada, se ajeitou no assento e começou a olhar os pés das pessoas. Sabe, dizem que muito pode saber da pessoa olhando seu sapato... Bom, pelo menos ela acreditava.
Ela desceria três estações depois. Foi quando a menina paralisou os relógios do mundo e focou naquele all star preto. Pergunto até hoje o que tinha tanto naquele all start preto que fascinou nossa pequena menina.  Era um all star normal, sujo um pouco e sem vida. Não tinha nada de interessante -  e ela veio admitir isso alguns dias atrás.
Os olhos claros da menina fitaram os tênis por alguns minutos até que subiu o olhar para o rosto do dono do all star.  Era um rapaz de aparência simpática, mas com beleza comum. Mas mesmo assim ela não conseguiu tirar os olhos dele. E se eu acreditasse no cupido e sobre essas histórias que me contam sobre o amor, ia dizer que uma flecha atirada pelo o anjo dos apaixonados acertou o coração da menina - essa sim seria a explicação mais sensata de se pensar para aquele caso.
 Ela precisava descer. Desceu afinal, deixando o amado para trás.
Mas que estranho... Ele também descera. Coincidência? Destino? Nunca vamos saber.  Só sei que a menina e o dono do all star desceram na mesma estação. Caminharam para a mesma direção. Sentaram para lanchar na mesma lanchonete. Saíram ao mesmo tempo de lá. 
Você pode até pensar que a menina fez de proposito ou até mesmo, o all star preto. Mas não, nenhum teve intenção.  Talvez a saída ao mesmo tempo tenha uma dose de culpa da menina, mas não queremos estragar a história bonita, não é mesmo?
Quando saíram da lanchonete, seguiram em esquinas diferentes. E a menina achou que nunca mais ia ver aqueles tênis e muito menos o dono. Mas que engano! Não é que se encontraram novamente no ponto de ônibus mais tarde?
Talvez fosse a vida dando mais uma chance para menina. “Vai lá besta, puxa assunto... Esbarra sem querer nele... Descubra seu nome!” falou a menina para si mesmo.  Mas quem dera que suas pernas correspondessem o fervor que ela sentia por dentro. Sentia borbulhar e o coração parecia que ia sair pulando pela boca. Mas por fora, estava completamente estatua, gelada. Não sabia mais como andar, e ainda se perguntou como conseguia se manter em pé!
E a situação piorou quando olhos esmeraldas da menina fixaram cruzaram nos olhos cor de jabuticaba do rapaz.  Foi como se a terra parasse de girar e pudesse ouvir o estalo da última folha na árvore caindo no chão.  Não se respirava, parecia que o ar estava ficando rarefeito.  E as pernas tremiam como se o chão tremesse sobre ela.
Não sei por quanto tempo esses olhares se mantiveram. Talvez fosse segundos ou minutos. Pode ter até passado anos. Ela nunca soube me responder.  E quem disse que o tempo importa?
Quando os olhos se desviaram, o ônibus chegou.
Subiram no mesmo ônibus. Desceram no mesmo ponto. Seguiram na mesma rua.
Só que ele foi para direita e ela para esquerda. Só que ela não falou com ele e ele também não a olhou mais.
Ninguém soube de fato o que aconteceu naquele dia. Se foi destino, coincidência ou coisas do coração. Não sei se o mundo estava conspirando para que nascesse um amor naquela primavera. Na verdade, nunca se soube se o menino percebeu todas coincidências daquele dia. Se o menino notara a menina nos lugares. Se aquele olhar teve importância. Se ele existiu de fato ou foi imaginação da menina.
Só sei que a menina nunca esqueceu o all star preto que ele usava e  a sensação dos dois olhares se encontrando. Me pergunto até hoje o que teria acontecido se ela fosse falar com ele. Mas isso nunca mais vamos saber. Por que afinal, o menino nunca mais foi visto. E menina hoje é mulher e amanhã se casa com um cara que nunca usou all start.

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

O mundo estava no rosto da amada.

O mundo estava no rosto da amada -
e logo converteu-se em nada, em
mundo fora do alcance, mundo-além.

Por que não o bebi quando o encontrei
no rosto amado, um mundo à mão, ali,
aroma em minha boca, eu só seu rei?

Ah, eu bebi. Com que sede eu bebi.
Mas eu também estava pleno de
mundo e, bebendo, eu mesmo transbordei.

Rainer Maria Rilke
Tradução: Augusto de Campos


Essa é a primeira vez que publico aqui um texto que não é meu. Mas eu adoro muito os poemas de Rainer Maria Rilke e por isso queria mostrar um pouco do trabalho dele e a minha paixão por esse poeta.